segunda-feira, 29 de junho de 2015

Nu





















A nudez faz-se necessária.
Já é hora de sermos sós
Só alma
Só banho de lua
Cicatrizes, tatuagens
Só forma,
Conteúdo
Sem preço, só valor
A nudez é urgente!
Só o prazer
A consciência refletida
Nossos odores, pêlos, marcas
Quanto saberíamos desnudos?
Só ser sem contas
Poros arrepiados
Denunciando os sentidos
Só coragem
Sol e carne

Ana Oliveira

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Piedras Amarillas



El camino marcado por las cáscaras
Es ahora, de las piedras amarillas
Una a una, retraigo sus marcas
Para dentro del cajón sin clave
Cierro todas las puertas y en vano
Junto restos de velas y sueños
Pues ya no encuentro el jeito de volver
Tus ojos viven en otra ventana
Una vista que no llega en los míos
E ellos han cansado del abandono

Anna Poulain

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Soneto para os olhos teus


Em cada dobra que pisca
Em toda sobra que arrisca
Mora em segredo, o oriente
Da retina que amanhece ardente

Cílios que minutos antes, casulo
Agora serpenteiam feito Flamenco
Ora dança, ora estátua
Num frenesi trêmulo e inseguro

Curiosas borboletas cristalinas
Denunciam o amor de efeito mescalina
Descansam depois no gozo das pálpebras

Janelas de sonhos vivos, tortos
Amanhecem sujas de sangue e poesia
Velas que desafiam a noite dos mortos

Anna Poulain

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Outonear-te


A vil espera enche os olhos
Cai como uma luva no tempo
Lava a face rubra e quente
Transforma flor festiva em lamento

 A dura tardança esquece de voltar
Anda às cegas cambaleante
Carrega na mala beijos e palavras
Vagueia feito moça desamparada, errante

A doce demora teima em ser brisa
Desperta a ida do mais profundo sono
Ao mesmo instante em que meus olhos piscam,
E você voa fecundo pólen de outono.

Anna Poulain


segunda-feira, 15 de junho de 2015

Amor livre


Ser livre para poder estar com quem realmente se quer. 
Ter o coração inundado de bem querer, sem espaço para outro. 
Como diz Tulipa, “só sei dançar com você, isso é o que o amor faz...” 
É claro que nada podemos ter contra quem gosta de sobrevoar vários jardins, 
mas para os românticos, só é possível preencher uma gaveta de cada vez. 
É preciso muito esforço para lidar com o novo que, 
apesar de emocionante, é bastante angustiante. 
Mas quando olhamos para dentro do outro e sua alma nos chama para um mergulho, 
nada mais pode ser feito. 

Eu sou meio bruxa, sim. 
Meio louca, sou. 
Meio a frente do meu tempo, ¡por supuesto! 
 Mas metade de mim é amor e a outra metade, também.

Anna Poulain

terça-feira, 9 de junho de 2015

Mariproseando


Vontade traz palavras
Devora os versos da voz
Efêmeras mariposas
Vão-se ao primeiro encontro
Com a luz que chama

O tom da beleza que vemos
Reflete ou obscura o divino
Do lado de dentro da pele
Morrer é fácil, borboleta!
Mas só a vida conjuga verbo.

Anna Poulain

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Costura



Meu novelo quer ser nó
Faz um emaranhado de sóis, luas
Cheiros, gostos, rostos
Ora decifro, ora vejo vazar 
Por entre os dedais e agulhas

Vou desenrolando fio a fio
Para no mundo não tropeçar
Costuro o retrato de meu ser
Tramando e desmanchando
Dedos gastos de recordar

A trama configura o desenho
Pontos desalinhados pela dor
Querem ser livres do esboço
Saltam veias e texturas
Para arrematar a vida em amor

Anna Poulain