quarta-feira, 22 de julho de 2015

Epigrama

Tumbas que já foram vidas
Restos que já dançaram tango
Comeram frutas da estação
Mulheres que já existiram grávidas

Mausoléus que já foram deuses
Vozes que ecoaram em púlpitos
Obrigaram ditaduras
Homens que já seguiram vieses

Sepulcros que já foram fantasmas
Segredos que nunca amaram
Cortaram pulsos, línguas
Corpos que já foram almas

Ana Oliveira

Maio















Tenho apenas o desejo dos teus olhos
Palavras que por pouco tempo minhas
O coração sujo de alegrias lembradas
Uma noite ou outra manhã qualquer

Tenho sufocado as paredes que se calam
Certo refúgio num repouso efêmero
Pois a vida teima em prosseguir
Embora o menino esteja guardado no amor

Ana Oliveira

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Carta ao amor

Meu amor,


Não estava te esperando. Sentia que tu virias, mas nem quando, nem onde. Quando chegastes, fugi. Corri desesperadamente de ti. Fui a bares, bebi vinhos, fiz poemas. Tudo na tentativa frustrada e inútil rumo ao caminho contrário ao teu. Mas quanto mais escapava, melhor te via. Sei que contigo não fora diferente. O destino nos empurrava contra essa corrente de fuga. Leis da física, química e todos os elementos combinados produziam uma poderosa alquimia, fazendo tudo conspirar a nosso favor. A nosso favor ou contra? Ainda não sabemos. Arrisco dizer que é tarde demais para pensar. Eu só quero que entendas que não estava te esperando porque já não esperava nada. E ainda não espero. Porque do amor a gente não exige, não planeja, nem negocia. O amor é via de mão dupla, um sentir sem atropelos, sem súplicas ou jogos de força. O amor só é se quiser ser.

Ana Oliveira