domingo, 23 de outubro de 2016

Vinte e três















Tua fraqueza agora esbanja adeuses
Acena ao definitivo, ocupada do mundo
Como um rio sem visitas, potável
Retirada e perene, alma intransitável
Das coisas que apagam os nomes
Dos nomes que perdem pessoas
Tua sina de lembrança esvaziada
Peregrina feliz, desfeita em poeira fina.⁠⁠⁠⁠

Ana Oliveira

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Doejar português















Nenhum mar vive atrás do véu
Mortalha da escuridão do dia
Nada se move, tudo está ao léu
No gládio que o cinza pressagia

Num prenúncio cego aos gritos
Jaz sentada na pedra, a dor
Renegada e aquém do Bojador
A rastejar em areias de vidro

Na hora mais perigosa do instante
Inquieta-se a esfíngica solidão
Descoberta e nua a lamber o chão
Do meio sonho forjado a sangue

Ana Oliveira

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Sonho morto














No sonho que não era meu
Metade de você apareceu
Sangrando na cabeça de outro
Teu corpo a sorrir-me morto

No devaneio também não era eu
Mas um alterego a dançar febril
Num vestido de festa fúnebre
A comemorar o luto que morreu

Nem dor, nem amor, nem mágoa
De um sem sentir que o véu afaga
Restos de ti que hoje é névoa
Jaz a brilhar no coração do nada

Ana Oliveira